Fundamentação Teórica

Em seu artigo ‘Documento de Arquivo e Sociedade’, Bellotto (2002) argumenta que os documentos são essenciais para o funcionamento de uma instituição, pois são eles que comprovam e registram as ações da entidade, informam, acionam e a movimentam, mas para além desta função os documentos institucionais permanecem alvo de interesse mesmo quando deixam de ter a utilização ligada às razões pelas quais foi produzido, pois para efeitos de pesquisa científica são testemunhos sociais e herança cultural.

Os pesquisadores da história local, por exemplo, precisam recorrer a fontes diversas para resgatar a história do município, entre elas destacam-se as fontes orais, entrevistas com antigos moradores que com suas memórias auxiliam a escrita da história; fontes iconográficas, fotografias de época, charges em jornais, pinturas; a própria arquitetura pode ser entendida como fonte para a pesquisa da história local e, evidentemente, as fontes escritas, desde cartas pessoais, publicações em jornais até os documentos oficiais do legislativo ou do judiciário.

Bellotto (2002, p.168) salienta que “os documentos de arquivo público, de peças imprescindíveis ao processo decisório, administrativo e jurídico, passam, alguns deles, por causa de seu valor informativo permanente, a bens culturais”.

Cabe ressaltar que a pesquisa da história local exerce influência positiva na sociedade, ela é um resgate da memória da comunidade e os indivíduos ao se perceberem representados na história reafirmam seu sentimento de pertencimento ao local e de auto estima por se perceberem como sujeitos da história. Para Reznik (2002, p. 3) a história local deve ser vista “como a ‘costura’ de um retalho dos processos de identificação do sujeito”.

Este processo identitário conduz à valorização da cultura regional, valorização esta que remete a ações de preservação da memória e dos bens culturais produzidos pela comunidade.

Garbinato (2000, p. 45) argumenta que o patrimônio histórico cultural é uma “construção social coletiva, pertence a todos e todos os cidadãos devem ter o direito e o dever de preserva-lo, como possibilidade de resgate de sua identidade social”. A preservação de um documento, como no caso do Arquivo da FAFIUV, permite o acesso a informações relevantes sobre nossa história, perde-las por danos causados pela ação do tempo, por exemplo, deixaria uma lacuna na escrita de nossa história, pois mesmo que algumas informações possam ser resgatadas através da história oral ou de outros documentos, a característica destes documentos possibilita diferentes reflexões históricas.

No texto ‘Patrimônio documental e ação educativa nos arquivos’, Bellotto (2000, p. 166) aponta para a conscientização das autoridades municipais e da população a respeito da função do arquivo público como organizador e custeador de uma documentação que funciona como prova, testemunho ou informação sobre questões referentes aos direitos e deveres nas relações entre governo e cidadãos. Para a autora o patrimônio documental é também caudatário do patrimônio cultural e a preservação deste, aliada à pesquisa e à educação patrimonial pode contribuir “para formar um cidadão mais apto a compreender o passado da sociedade em que vive e, com isso, melhor pode dar sua contribuição para forjar um futuro mais digno para esta mesma sociedade”.

Desantes Guanter citado por Bellotto (2002, p. 168) argumenta que “o arquivo não é só informação, mas também potenciador de informações”, tal argumento permite refletir sobre o fato de que a existência da informação, sem meios eficazes de acesso a ela, não é suficiente. A função da arquivística é, entre outras, potencializar a pesquisa e o acesso às informações, elaborando, por exemplo, instrumentos descritivos dos documentos.

As novas tecnologias, hoje disponíveis, permitem que esta função do arquivo se torne cada vez mais eficaz. A digitalização de documentos históricos, não apenas preserva o documento original que deixa de ser constantemente manuseado por pesquisadores, como também agiliza a pesquisa, se pensarmos que os documentos podem ser disponibilizados em diferentes mídias eletrônicas.

Referências
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Documento de arquivo e sociedade. Ciências e Letras, n 31. Porto Alegre: Faculdade Porto Alegrense de Educação, jan/jun, 2002.
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Patrimônio Documental e ação educativa nos arquivos. Ciências e Letras, n. 27. Porto Alegre: Faculdade Porto Alegrense de Educação, jan/jun, 2000.
FONSECA, Selva Guimarães. Caminhos da História Ensinada. Campinas: Papirus, 2003.
GARBINATTO, Valeska. Ensino de História e Patrimônio Histórico: Pontes para a Construção da Memória e Cidadania. Ciências e Letras, n 27. Porto Alegre: Faculdade Porto Alegrense de Educação, jan/jun, 2000.
REZNIK, Luis. Qual o lugar da História Local? V Taller Internacional de História Regional y Local. Havana/Cuba, 2002. Disponível em: www.historiadesaogoncalo.pro.br/txt_hsg_artigo_03.pdf. Acessado em 06 de dezembro de 2007.


Prof. Dr. André Bueno